Não só no Natal...

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O espírito do Natal deveria estar presente todos os dias de nossas vidas, como um eterno convite a uma nova vida com mudanças de hábitos e de costumes.

Este ano vou contar experiências que presenciei e de certa forma participei também.

 

Semana passada, voltando de um atendimento de emergência tarde da noite, paramos em uma rua para comprar um refrigerante e levar para casa. Quando voltamos para o carro, havia um menino dos seus 13 anos catando comida no lixo. Um jovem, ao olhar aquela cena, chamou o menino, deu um dinheiro e falou:

- Oh, é pra você comprar alguma coisa pra comer, não vai comprar cola pra cheirar não.

O menino agradeceu muito e disse:

- Que Deus te abençoe. 

Quando estávamos saindo com o carro ouvi aquele jovem acrescentar:

- Pegar comida no lixo eu não aguento ver.

Fiquei feliz em perceber que a sensibilidade para essas coisas ainda era latente na vida de alguns jovens, e isto me fez lembrar um episódio da infância dos meus filhos.

Estava eu indo para casa feliz da vida com o meu primeiro carro zero, com meus dois filhos no banco de trás, quando começou a cair um daqueles temporais de março. Eu já estava perto de casa, mas mesmo assim o temporal era tão intenso que deixava até quem estava com o carro na garagem em alerta.

Quando eu estava subindo o viaduto do Méier, avistamos uma senhora que poderia ser minha mãe pela idade e, portanto, avó dos meus filhos, lutando contra o vento e aquela tempestade. 

Meus filhos começaram a falar quase que ao mesmo tempo:

- Mãe, coitada daquela velinha, dá uma carona pra ela. 

- Vai mãe, por favor, senão ela pode cair lá embaixo.

Eu, meio confusa, fiquei pensando se deveria ou não acolher aquela senhora. Minhas dúvidas não eram por causa do carro, de molhar por dentro ou coisa parecida, quem me conhece sabe que não sou nem um pouco apegada a isso. Mas é que falavam tantas coisas... Pessoas que usavam idosos ou crianças para pararem um carro e depois apareciam do nada por traz delas para assaltar. E, como eu estava com meus dois filhos dentro do carro, fiquei temerosa.

Deu tempo de pensar isso tudo porque o viaduto estava engarrafado. Mas, de repente, tomei uma decisão:

- Ok, vamos dar uma carona para ela.

Ela estava um pouquinho à frente. Meus filhos abriram o vido e começaram a chamá-la.

Aquela Sra olhou para eles, e, sem pensar, veio em direção ao nosso carro e entrou aliviada. Já dentro do carro, disse a seguinte frase: 

- Muito obrigada, vocês foram uns anjos.

Eu acrescentei:

- Vocês não, eles. Foram eles que se comoveram e pediram para eu dar uma carona para a Sra.

Deixamos aquela senhora na porta de casa, que ficou tão grata a ponto de querer que entrássemos para tomar um café.

Hoje, lembrando daquele episódio, tiro algumas conclusões.

Se eu não tivesse dado ouvidos aos meus filhos e abafasse naquele dia a sensibilidade vivida na infância, com palavras negativas e pessimistas sobre o ser humano, provavelmente eu não teria presenciado, nos dias de hoje, aquele jovem falando com o garoto que catava comida no lixo.

É bom lembrar o passado sim, mas, mais que isso, precisamos ter consciência que só o que fizemos no passado não basta, precisamos de novas experiências no presente para no futuro termos certeza de que aproveitamos o nosso tempo e não somente ficamos vivendo de uma ou duas boas lembranças do passado.

Precisamos ser como crianças (isso é bíblico) e ter mais compaixão pelas pessoas. E isso pode começar hoje, aqui e agora, basta ter uma atitude diferente do que se costuma ter todos os dias e levar esse espirito para todos os próximos dias de nossas vidas.

Este é para mim o verdadeiro espírito do Natal, uma nova oportunidade de fazer o que é certo a cada amanhecer, e não somente no Natal.

Feliz Natal.