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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

“Realidade em excesso deprime e pode matar” ...

Foi o título de uma reportagem, não sei de qual jornal, nem o ano, que falava do repórter sul africano – Kevin Carter, que tirou a foto acima, polêmica –  uma criança faminta observada por um urubu.

 Na verdade a reportagem só citava Kevin no final, no início falava sobre a preocupação com o estado de espírito do repórter Paulo Henrique Amorim, um homem safenado com excesso de trabalho (Haiti, Cuba, Moçambique...), locais com problemas, na época, onde ele estaria presenciando muitas fatalidades.

Fui investigar a vida do tal repórter sul africano:
 
“Numa dessas expedições, Carter encontrou a criança da foto rastejando faminta até um campo de alimentação da ONU, a aproximadamente um quilômetro do local. O fotógrafo observou a garota, e percebeu um urubu a espreita. Carter diz ter aguardado até vinte minutos, esperando que o pássaro se retirasse. Como o urubu não saiu, ele procurou o melhor enquadramento, tirou a foto e açoitou o predador. Depois, partiu dali abandonando a criança da maneira que a encontrou”.

Descobri depois que o fotógrafo foi premiado pela foto, mas também foi muito criticado por não ter socorrido a criança. “Herói engajado ou urubu predador?”

Depois que foi premiado (ganhou o Prêmio Pulitzer por Fotografia, em 23 de maio de 1994, o mais importante prêmio jornalístico do mundo), declarou em entrevista a revista American Photo: - “Essa foi a minha foto de maior sucesso, depois de dez anos como fotógrafo, mas não quero pendurá-la na parede. Eu a odeio”.

Claro que depois disso ele nunca mais foi o mesmo. Cometeu suicídio.

Por que estou escrevendo isto?

Greg Marinovich, escreveu certa vez: “Tragédias e violência certamente geram imagens poderosas. É para isso que somos pagos. Mas cada uma dessas fotos tem um preço: parte da emoção, da vulnerabilidade, da empatia que nos torna humanos se perde cada vez que o obturador é disparado. Evidente que em grau maior, trata-se da mesma banalização que nos acomete ao olhar os jornais diariamente: há abismos demais.”

Acabei de assistir – Tropa de Elite2 -, e, embora soubesse se tratar de, vamos dizer,  “denúncias”, estou me sentindo mal. Talvez pelo estado de saúde que andou abalada este fim de semana? Tomara que não. Que a realidade em excesso não me mate, mas que me deprima ao ponto de arrancar das minhas entranhas qualquer tipo de acomodação que ainda possa existir.

Dizia Hillel, o ancião: “Se eu não for a favor de mim mesmo, quem o será? E se eu for apenas a favor de mim mesmo, então, o que serei eu?"

Boa semana para todos.

6 comentários:

Rayssa Bentes disse...

Nossa! Que impressionante e triste essa historia do fotografo :/
Realmente o mundo vai de mal a pior .. é triste ver cm o homem só vê um palco a frente do seu nariz..
Essa frase foi a mais marcante dessa publicação.. daquelas que te faz refletir : " Que a realidade em excesso não me mate, mas que me deprima ao ponto de arrancar das minhas entranhas qualquer tipo de acomodação que ainda possa existir."

Rayssa Bentes disse...

Nossa! Que impressionante e triste essa historia do fotografo :/
Realmente o mundo vai de mal a pior .. é triste ver cm o homem só vê um palco a frente do seu nariz..
Essa frase foi a mais marcante dessa publicação.. daquelas que te faz refletir : " Que a realidade em excesso não me mate, mas que me deprima ao ponto de arrancar das minhas entranhas qualquer tipo de acomodação que ainda possa existir."

Fabíola disse...

Juro, não consigo olhar muito para essa foto!
O certo é que essa banalização da violência e dos abismos sociais que vemos nos jornais está acontecendo de verdade, mas enquanto nos chocarmos com fotos como essas, ainda há uma esperança de que, cada um fazendo a sua parte, poderemos reverter esse quadro.

No trecho "cada um fazendo sua parte" foi vc quem me disse que é possível... em você eu confio... vou acreditar!!rsrs... ;)
Vc é demais!!! Seu blog está demais!!! Parabéns!!

Bjão!

®ê Werneck disse...

Eu não conhecia a história da foto. Fui lendo até me chocar com o seguinte:

"Depois, partiu dali abandonando a criança da maneira que a encontrou”.

Fiz aquela pausa mental de 30 segundos: “Como assim, seu imbecil ? Como vc largou a criança ? Por que ?”

Aí, o texto continua:

”Descobri depois que o fotógrafo foi premiado pela foto, mas também foi muito criticado por não ter socorrido a criança.

Mais uma pausa mental de 30 segundos: “Ufa. Não sou a única que critico e ainda sei ler um texto (obs. eu tive que reler porque não acreditei que ele largou a criança)”

Depois, veio o resultado: o do suicídio. E me perguntei: é a realidade que mata ou é o sentimento de culpa por nada fazer quando só depende de 01 gesto nosso ? Acho até que essa pergunta esbarra no questionamento final de Hillel: “o que serei eu?”

Pegando um gancho na Fabíola, acho que o “não se acomodar”, além de reverter o quadro, evita o sentimento de culpa.

Bjs e ainda bem que tá chegando o Natal !!! É uma excelente oportunidade de reverter o quadro. É uma data em que mais aflora pedidos de ajuda. Oportunidade não vai faltar !

P.S. Ficou grande ! Sorry :(

sandrine disse...

Rayssa, que bom que você se interessou. Amei seu comentário.

Fabíola, é assim mesmo, sempre dá pra fazer mais um pouquinho. Somos todos responsáveis.

Rê, ficou grande nada, ficou ótimo. Adoro quando param para refletir.

Bjs meninas

Camila Andrade disse...

professora,que decepesão, fico muito triste em ver essa foto,espero sejam muitos poucos casos como esse. E que mais pessoas vejam e ajudem essas pessoas. :(

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