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domingo, 3 de julho de 2011

Já passei por cada uma...

Não é a foto do almoço, mas gosto dessa foto de familia

Família reunida é sempre sinal de bons papos, diversas lembranças e muitas gargalhadas. Foi assim nesta ultima quinta. Como minha irmã que mora em Marataízes (ES) estava aqui, resolvemos fazer um almoço e juntar todos aqui em casa. Em meio a muitos assuntos começamos a rir com algumas situações do passado. Foi aí então que nos lembramos do seguinte episódio:

 
Eu, em um tempo remoto, resolvi ligar para minhas irmãs, avisando que iria ao Barra shopping, comprar os ovos de páscoa já que a pascoa se aproximava. 

Para quem não mora aqui no Rio, o Barra Shopping fica na Barra da Tijuca, Bairro da zona oeste do Rio de Janeiro, e eu, minhas irmãs e minha mãe, morávamos no Méier, um bairro da zona norte. Como se tratava de uma distância considerável, e estando minhas irmãs com filhos menores do que os meus, me incumbiram de comprar todos os ovos de páscoa da família. Então, fui eu, com uma lista enorme que ia desde a professora do jazz até o amigo invisível, para o tal shopping passar horas e horas até cumprir com todos os itens da lista. Pelo menos elas se comprometeram a ficar com meus filhos.

Depois de muito tempo no lotado shopping, e com minha missão compridíssima, resolvi que era hora de voltar para casa. Eu estava acabada, já eram mais de 21:00 horas e eu havia entrado no shopping por volta das 16:00 horas.

O caminho de volta para casa seria a estrada Grajaú-Jacarepaguá. Uma serra conhecida na época pela sua bela vista, mas muito mais famosa pelos acidentes e assaltos.

No meio da serra, bem no alto, antes de começar a descer, eis que o pneu do meu carro fura. Claro que entrei em pânico. Quase 22:00 horas e eu no lugar errado e na hora errada. Parei onde estava mesmo, pois o trecho não possuía acostamento, fiquei pensando o que iria fazer, foi então que avistei um senhor e resolvi perguntar se ele sabia de algum borracheiro por ali. Ele apontou para um, um pouco acima da estrada, já na entrada do morro, e disse:

- Como a Sra pode ver está fechado.

Eu fiquei triste, me sentindo derrotada, e ele, olhou para mim e acho que por ter ficado com pena acrescentou:

- Dona, peraí que vou chamar uns amigos para dar um jeito nisso.

Ele assobiou em direção ao morro e desceram 4 homens fortes, o que me fez pensar imediatamente que eu estava perdida.

Eles pediram a chave do carro e eu fiquei ali olhando para eles com a chave na mão, claro que não querendo dar e muito menos acreditar no que estava acontecendo. Um deles praticamente arrancou a chave da minha mão, abriu o porta malas do carro e junto com os outros, foram tirando as caixas de ovos de páscoa. Depois pegaram o estepe e o macaco e começaram os trabalhos.

Um deles informou que o macaco não funcionava e ainda resolveu me dar uma lição de moral dizendo que eu devia verificar estepe e macaco de vez em quando.

Dei um sorrisinho sem graça, não podia mostrar nenhum descontentamento, afinal não sabia eu com quem estava lidando.

Ele virou para os outros 3 e disse o seguinte:

Levantem o carro da Dona aqui que eu troco o pneu.

Prontamente os rapazes se posicionaram em volta do carro, levantaram o mesmo, e  o outro com as chaves fez o serviço de troca.

Ao terminarem o serviço colocaram tudo no lugar.

Como sempre, tenho o péssimo hábito de andar com pouco dinheiro. Já prometi a mim mesma não fazer mais isto, mas não adianta. Pego uma quantia e vou gastando sem repor, o que várias vezes já me deixou em apuros. Não foi diferente no episódio, eu estava com alguns trocados na carteira e não tinha como recompensá-los como achei que deveria. Mas como sou criativa, tive uma ideia e disse:

- Estou sem dinheiro, mas vocês não gostariam de ficar com uma dessas caixas de ovos de páscoa?

O líder do grupo deu um sorriso mostrando que eu havia dado um passo certo.

Ele pegou uma das caixas que deveria ter 12 ovos de pascoa de tamanho médio e ficou com um sorriso de orelha a orelha.

Fechado o porta malas do carro voltei para o volante, dei um sorriso e agradeci.
 
Quando já estava quase saindo o que estava com a caixa na mão disse o seguinte:

- Aí dona, a Sra deve ter pensado que nós éramos ladrões, foi não? Nem todo mundo que mora no morro não presta.

Outro sorriso, só que agora meio amarelo e, mesmo intimamente concordando com eles, fiz a seguinte afirmativa:

- Já ouviram falar em anjos? Vocês hoje foram os próprios. Muito obrigada mesmo.

Ele deu um dos sorrisos mais lindos que já vi até hoje e, claro, nunca mais esqueci o ocorrido. De tempos em tempos lembro e reflito, tiro minhas conclusões e sinto vergonha ao perceber quanto preconceito enraizado ainda existe dentro de mim.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Sandra !
Que situação inusitada!
Lembrou-me de um episódio que aconteceu comigo e uma colega,quando voltávamos,de carro, do "Fundão". O veículo enguiçou na linha vermelha, em um local bem "estranho"; e também tivemos ajuda de alguns moradores.Tivemos as mesmas reações descritas no post.
Em certas situações,acho que não existe somente o preconceito mas também a precaução e o fator sobrevivência .
Bjs, Mônica -CEE

Fabíola disse...

Adorei o post!! Mas não tem como, infelizmente, a gente não pensar no pior nessas ocasiões... :/

O pior de tudo foi ter q voltar em alguma loja pra comprar os ovos que, por fim, ficaram faltando... aff... ou então deixar deixar alguém sem ovo de Páscoa mesmo... rsrs.. ;)

Bjs!
Fabíola

Anônimo disse...

O preconceito nem é culpa sua. É o que todos pensaríamos. É resultado da violência que dominou o Rio durante décadas.

Fiquei feliz mesmo por eles terem aceito os ovos. Achei bem bacana ! Imagina as crianças ganhando ?

E tb tenho esse péssimo hábito de andar sem dinheiro. O que piorou consideravelmente com o cartão de débito rs. Não tem jeito !

Bjs, Rê Werneck

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