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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

"Raízes Indelicadas"

fotografodigital.com.br

Meu pai deixou uma carta para ser lida depois da sua morte. Nela ele usou uma expressão que embora muito triste mergulhada em muita poesia.

“- Sou um homem de Raízes Indelicadas”.
Eu já comentei por aqui e também nos agradecimentos do romance – O Clube do Salto – que herdei o dom de escrever do meu pai. Ele sempre escreveu muito bem, mas não chegou a ter nada publicado. Estava em seus planos e sonhos publicar um livro, o que não deu tempo. Isso faz com que eu me culpe, porque embora tenhamos trocado várias conversas sobre o assunto, todas sem nenhum sucesso, eu poderia ter empenhado mais esforço em ajuda-lo a realizar o seu sonho. Essa foi mais uma lição que a morte dele deixou: todo esforço enquanto ainda há vida.

Fiquei pensando muito sobre essa expressão tão profunda e contundentemente delicada.

Indelicada mesmo é a vida que não nos dá a real dimensão do amor que sentimos, a não ser depois que perdemos.


Então, resolvi escrever sobre isso:
“Raízes Indelicadas”

Indelicada essa vida que não acerta nossos ponteiros com o relógio de quem amamos.

Indelicada a morte que, embora certa, não nos prepara para a perda e nos torna capengas, arrancando um pedaço do que temos de mais precioso, o amor.

Indelicada também as pessoas que não se deixam amar, se esquivam, se enganam e se afastam como se temesse mais o amor do que a dor.

Indelicada a fraqueza que nos faz desistir sabendo que posteriormente iremos nos arrepender de não termos tentado mais.

Indelicada a dor que fica no peito porque não nos deixamos quebrantar, lutamos as lutas erradas e baixamos a guarda para o inimigo.

Indelicada a experiência que pra nada serve se não nos tornar pessoas mais humildes, que falam menos e dão mais exemplos. Que apesar dos apelos não se enveredam por caminhos tortuosos.

Indelicada a saudade que não nos deixa dormir, que na madrugada vem testar nossas forças e a nossa dor.

Indelicada é a lição que aprendemos na marra, sem idade e sem maturidade para carregar.

Indelicada é a caminhada que prossegue anunciando que outras perdas virão.

Indelicada é a vida que é um ciclo e que nos faz sobreviver e retomar a maioria das futilidades que hoje tanto condenamos.  

Indelicadas raízes?

Não.

 Indelicada é a vida que nos furta a própria vida.

2 comentários:

Aaliyahrj disse...

Também considero a vida indelicada, pois ela nos dá e nos priva do que mais amamos.
Bjs no coração

Cidalia Rgina Preira de Pinho disse...

Sou filha de um homem de raízes indelicadas, mas que deixou em minha alma muita, muita delicadeza... Saudades!

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